Não partilhei, e até tive alguma dificuldade em compreender, a comoção geral que tomou conta do país, da Madeira, e da campanha eleitoral, por causa da dimensão do buraco para onde o dr. Jardim arrastou a Madeira. Não é por me ter tornado cínico: é porque nada nestas notícias surpreende – e não devia surpreender ninguém minimamente informado.
Não me interpretem mal: os números da dívida da Madeira são impressionantes. Sejam os 5,8 mil milhões admitidos pelo Governo Regional depois de ter ocultado e mentido até ao limite, sejam os 6,3 mil milhões do ministro das Finanças, que mais não são do que as contas do dr. Jardim mais uns pozinhos para disfarçar a incapacidade do Governo da República para lançar uma auditoria digna desse nome, sejam os 7 ou 8 mil milhões de que fala a oposição.
Mais coisa menos coisa, a Madeira deve o equivalente a 12, ou 13, ou 16 submarinos – e andou o país tão entretido, durante anos, a discutir o rombo que dois submarinos faziam nas contas nacionais…
Seja quanto for, é muito. É demasiado. Mas é só um número. É claro que é importante conhecê-lo com o maior rigor possível – e a imaginação dos rapazes do dr. Jardim é tanta para esconder e manipular, que ficará sempre a dúvida sobre se não haverá um cantinho da carpete que não foi levantado e o que poderá estar escondido lá debaixo. Este número, por duvidoso que seja, é a medida do desastre que é a governação do dr. Jardim, para quem ainda tivesse ilusões sobre isso.
Mas a minha questão é outra: mais mil milhões, menos mil milhões (nas contas do dr. Jardim, abaixo de milhão são trocos), há anos que ninguém de bom senso tinha ilusões sobre a governação desta gente e sobre o que se passava na Madeira. Era só querer ver.
Era só olhar para o lado e ver os prodigiosos casos de enriquecimento súbito de qualquer laranjinha diligente e obediente. Era só ver tanta rotunda, tanta marina, tanto parque industrial às moscas, tanto estádio, tanto jogador da bola, tanta via rápida, tanta estrada de 200 metros para lugar nenhum, tanta empresa municipal, tanto centro cívico vazio, tanta sociedade de desenvolvimento, tanto ajuste direto, e perceber que tudo isso um dia nos havia de cair em cima. Era só perceber o velho ditado de que não há almoços grátis. Era só ir lendo o jornalismo do Diário em vez de ler a propaganda do Jornal. Era só pensar um bocadinho.
O valor da dívida, o valor do défice, são números. O problema não é o número – o problema é o homem. O problema chama-se Alberto João Jardim.
Até domingo o dr. Jardim há-de gritar, pular, dançar, cantar, suar e inaugurar para convencer os eleitores de que ele será o melhor para negociar a saída do buraco em que meteu a Madeira. Não está em causa a sua capacidade de negociar. O que está em causa é a sua capacidade de governar. Deixá-lo a governar a Madeira é pôr um pirómano a combater o incêndio que ateou. Não pode dar bom resultado.
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